Queria
No âmago da minha existência, ansiava eu,
Cismando em desejos e devaneios profundos,
Queria, ó musa, expressar o que em mim reluz,
Em versos enredados, sutis e fecundos.
Queria eu, como um colibri à procura do néctar,
Embriagar-me na doçura de teus beijos celestiais,
Ansiava pelos acordes de uma sinfonia rara,
Na cadência dos nossos passos descomunais.
Na volúpia da quimera que me atormenta,
Desejava eu adentrar no universo do teu ser,
E mergulhar nas águas do amor que alimenta,
A alma sedenta, num eterno renascer.
Queria ser verso em teus lábios, ó lira divina,
Vibrando em melodias de paixão e esplendor,
Transmutar-me em rima e verso em tua sina,
Na tessitura do tempo, entrelaçar o amor.
Ó desejos inebriantes, efêmeros e insanos,
Ardentes labaredas que consomem a razão,
Queria aprisionar-vos em versos, eternos profanos,
Sussurrando na poesia o fogo da paixão.
Queria, ó musa, desvendar-te o segredo,
Na alcova das palavras, despi-lo ao luar,
Entregar-te minha alma, num gesto de enredo,
E assim, no palco do tempo, juntos bailar.
Ah, a efemeridade do querer que me consome,
Emaranhado de sonhos e desejos sem fim,
Mas na poesia encontro abrigo, meu nome,
Em versos intricados, revelo-me enfim.
Queria, ó musa, exprimir o querer que me assalta,
No intrincado tecido da língua e da alma,
Pintar com palavras a ânsia que me exalta,
E moldar na poesia a chama que se acalma.
Assim, trago no peito o querer infinito,
Esculpindo versos no íntimo da emoção,
Na complexidade do desejo escrito,
Revelo, na poesia, minha pura paixão.