Orvalhando sonhos...

E quem disse que quero me (des)inventar?

Deixar de orvalhar sonhos,

de aprender com a compassividade irosa

que me foi dada ou calar a minha voz

no silêncio da (in)reciprocidade,

no fim do nada que tenho,

do chegar do (a)colhimento...

Tenho em meus pra dentro um refúgio -

que, por algum tempo, estive a perseguir -,

que me guarda relicário enquanto vivo,

enquanto não poderia mais morrer,

enquanto durmo na (in)certeza da lua,

no assovio do vento que, triste, balança a ramagem,

que movimenta sombras na terra

e, pálido de auroras, inaugura a lágrima em mim...

E quem disse que quero me (des)inventar?

Corro igual gazela para (re)criar em mim

um uníssono de sonho

que alcance uma janela azul de sentimento.

A pele expurga sonhos, enquanto a alma

se acolhe em si mesma em busca de se consolar.

Os dedos choram sobre as cordas esticadas de dor...

um silêncio, uma pausa, um toque só silencioso e puro...

a partitura da vida é para se viver com os olhos fechados,

sentindo apenas... que o viver real

é aquele que mora no coração - o Amor!...

Ecoa o som harmonioso que a alma fez

após se abrirem - no meu silêncio - os olhos do poeta...

um ecoar melodioso e hárpico

que exala o som do interior

dos abismos e montanhas que habitam em mim...

Amo-te assim: olhos de melodia

nas cordas de um vento

que me acaricia a face

com as pegadas de um destino

ao qual meu coração, há milênios, já disse Sim!...