O bardo e seus bemóis
São sonhos falazes, d'âmago profundo,
A bordar os corações de doce engano
Tomam-me de assalto e, assim, afundo
Neste fogo deveras sublime e leviano
Eis-me no charco das almas e paixões,
Nas tramas de ilusão astuta e ardil
Paira aqui névoa densa, véu sutil,
A turvar os olhos e as emoções
Ó tempo vil, cru e impiedoso,
Deslinda teu manto de quimera!
Revela-nos a face da fera do tormento
Na bela e primeira flor da primavera
Ergo tais versos ao firmamento
Brado aos deuses por redenção
Que este afeto de além-mundo
Seja canto pródigo e fecundo
Ai luas, ai sóis. Quantos mais de nós
Inda estaremos fadados a benquerer?
Quem responde? O bardo e seus bemóis:
Ai luas, ai sóis. Certamente todos nós!