O bardo e seus bemóis

São sonhos falazes, d'âmago profundo,

A bordar os corações de doce engano

Tomam-me de assalto e, assim, afundo

Neste fogo deveras sublime e leviano

Eis-me no charco das almas e paixões,

Nas tramas de ilusão astuta e ardil

Paira aqui névoa densa, véu sutil,

A turvar os olhos e as emoções

Ó tempo vil, cru e impiedoso,

Deslinda teu manto de quimera!

Revela-nos a face da fera do tormento

Na bela e primeira flor da primavera

Ergo tais versos ao firmamento

Brado aos deuses por redenção

Que este afeto de além-mundo

Seja canto pródigo e fecundo

Ai luas, ai sóis. Quantos mais de nós

Inda estaremos fadados a benquerer?

Quem responde? O bardo e seus bemóis:

Ai luas, ai sóis. Certamente todos nós!

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 16/06/2023
Código do texto: T7815428
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