Deixe-me amar
Anoiteceu
Outro dia que termina
Cansado e estressado chego a casa.
Com a família breves conversas
Pedidos, cobranças e queixas
Banhos e rápidas refeições
Na televisão notícias, novelas ou futebol.
Meia noite na cama
Para outro dia enfrentar.
Amanheceu
Luto para levantar, quero dormir.
Café apressado para não atrasar.
No trabalho cobrança, mais trabalho
Na folga, Internet ou conversas sobre
Excesso de trabalho ou baixo salário.
Mais trabalho, a hora custa passar
Espero fim de semana logo chegar
Desejo dormir e me divertir.
Nos fins de semana compras
Comidas e bebidas para se empanturrar,
Ou com amigos peladas e cervejas,
Conversas sobre futebol, sacanagem, vida alheia,
Queixas da vida, política, corrupção e negócios.
Dias, semanas e anos se passam.
Eternas rotinas que se repetem.
Vida em banho-maria e sem sabor,
A mesmice de sempre, sem novidades.
As vezes, breves momentos de alegria,
Raros momentos de felicidade ou deleite.
Estou cansado desta vida cinzenta.
Estou farto desta vida avarenta.
Quero uma vida mais vibrante.
Quero viver intensamente.
Estou saturado de estar anestesiado,
Quero sentir nas minhas veias a vida correndo.
Quero voltar a reviver a doce alegria
Dos saudosos tempos de criança.
Procuro uma saída,
Uma nova estrada para caminhar.
Procuro uma luz para minha vida iluminar.
Sou escravo dos meus pensamentos,
A mente me domina
Ele é meu senhor.
Meu senhor é sem emoção só razão.
No seu império predominam
Sentimentos de medo e egoísmo.
Assim, tornei-me ambicioso e calculista.
Tenho medo de amar para não me expor.
Tenho medo de amar para não me entregar totalmente.
Tenho medo de amar para não ser explorado.
Tenho medo de amar para depois não sofrer.
Com meu senhor só é futuro ou passado.
Não permite o presente existir.
Meu senhor me ordena
Deixe para depois,
Amanhã será melhor e mais seguro.
Construa um futuro melhor.
Assim, vivo preparando-me para o futuro,
O futuro que nunca chega
O tempo passa e eu sem viver.
Com meu senhor o coração se cala.
Quando ele se distrai ele me aconselha:
Liberte-se, solte-se.
Viva a vida, a vida é bela.
É como a sinfonia as quatros estações de Vivaldi.
Viva a vida, a vida é meiga e enigmática
Como a Monalisa de Da Vinci.
Viva a vida, a vida é sublime
como a nona sinfonia de Beethoven.
Viva a vida, a vida é um romance
Como o filme Titanic.
Quando consciente estou
Ouço a sua súplica:
Deixe-me amar
Liberte-me deste cativeiro.
Desperte do seu sono profundo.
Abandone as ilusões.
Controle seus pensamentos.
A vida não é só razão, nem pensamentos
É harmonia, é poesia, é sentimento.
Desperte a sua natureza poética
Deixe-me amar.
Aprecie a linda primavera florida
Botões se desabrochando,
Pássaros trinando,
Noites enluaradas
Envolvendo-te de paz e harmonia.
Desperte a sua natureza poética
Deixe-me amar.
Aproveite o calor escaldante do verão
Banhos de mar nas praias de areias brancas,
Sorvetes e cervejas geladas,
O sol sorrindo
Aquecendo a frieza de seus sentimentos.
Desperte a sua natureza poética
Deixe-me amar.
Viva o outono dourado,
Frutos maduros apreciando,
Nos campos cavalgando,
Brisas soprando
Levando as poeiras de sua memória.
Desperte a sua natureza poética
Deixe-me amar.
Aprecie o inverno branco,
Flocos de neve caindo,
Na lareira aquecendo,
Tempo esfriando
Congelando as suas mágoas de outrora.
Ah! Como a liberdade demora a chegar.
Estou cansado de tanto esperar
Se não posso o amor manifestar,
Eu quero pelo menos me apaixonar.
Paixão ardente
Que queima a gente.
Se não posso o amor manifestar
Eu quero pelo menos me apaixonar.
Mesmo que seja
Como Romeu e Julieta,
Apaixonados perdidamente
Com conflitos de famílias
Na tragédia separados.
Se não posso o amor manifestar
Eu quero pelo menos me apaixonar.
Mesmo que seja
Para depois sofrer,
Para depois padecer,
Saudade sentir,
Abandonado ser.
Se não posso o amor manifestar
Eu quero pelo menos me apaixonar.
Para dar este fugas amor da paixão
Quando a hora chegar,
A morte me visitar,
Partir sem arrependimento nem lamento
Na consciência levando
A minha vida não foi em vão
Vivi, sofri, mas também amei.