onze
Eu sinto
Que sempre erro nas palavras,
Erro no tom
E erro no que sinto.
Erro no que sou,
Me abro em um abismo
E me desencontro.
Eu não estou comigo
E também
Não tenho coragem de me buscar.
Nem de te amar
Nem de te dizer
Que sim,
Talvez eu já ame você,
Mas não você de verdade,
O você na minha cabeça,
Que eu inventei
Para enganar a carência
E driblar o desinteresse
Que eu tenho pela própria vida.
Porque eu tenho muitas feridas
E eu escolhi acreditar
Que você é esparadrapo.
Que você me aceitaria em pedaços
E me faria inteiro
Como quem sabe fazer kintsugi.
Eu não te conheço,
Então,
Preenchi suas lacunas
Com o que preciso,
Dividi meu peso
Com a sua idéia
E hoje, tô menos cansado.
Você me salvou,
Eu me salvei.
Até que a fantasia se desfaça,
Você me carrega nos ombros
E eu te carrego no peito.