Amor Divinus

Nas gélidas páginas do inverno antigo,

Com o céu pendente em véus cinzentos e baixos,

A bela Hera, de colo alvo como os lírios do campo,

Vagueava só, com coração batendo descompassado.

De súbito, um cuco, trêmulo de frio,

Por sobre sua cabeça a voar, e em seu ombro a pousar.

Ela, a rainha dos deuses, filha de Titãs e mãe do firmamento,

Pelo pobre animal se compadece, seu olhar brilhando com sentimento.

Acaricia a ave fria, aquecendo-a em seu colo,

Com a suavidade de um toque tão raro e precioso.

Mas, eis que se revela a verdadeira forma: Zeus,

O céu em pessoa, o raiar do sol glorioso.

O amor, tão violento quanto uma tempestade,

E suave como o perfume das flores, ali se mostrou.

E em meio às paisagens de Creta, sob o olhar dos deuses,

A união de Zeus e Hera o céu abençoou.

Todos compareceram, semideuses e deuses,

Exceto Queloni, que a desfeita cometeu.

E pela ausência, em tartaruga se transformou,

Em silêncio, ao ritmo lento dos dias, desapareceu.

Assim foi a conquista de Hera por Zeus,

Um amor ardente, moldado em forma de cuco.

E entre as batidas de corações apaixonados,

Reside a história de um amor profundo e louco.

Paulo Afonso Tavares
Enviado por Paulo Afonso Tavares em 10/06/2023
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