Amor Divinus
Nas gélidas páginas do inverno antigo,
Com o céu pendente em véus cinzentos e baixos,
A bela Hera, de colo alvo como os lírios do campo,
Vagueava só, com coração batendo descompassado.
De súbito, um cuco, trêmulo de frio,
Por sobre sua cabeça a voar, e em seu ombro a pousar.
Ela, a rainha dos deuses, filha de Titãs e mãe do firmamento,
Pelo pobre animal se compadece, seu olhar brilhando com sentimento.
Acaricia a ave fria, aquecendo-a em seu colo,
Com a suavidade de um toque tão raro e precioso.
Mas, eis que se revela a verdadeira forma: Zeus,
O céu em pessoa, o raiar do sol glorioso.
O amor, tão violento quanto uma tempestade,
E suave como o perfume das flores, ali se mostrou.
E em meio às paisagens de Creta, sob o olhar dos deuses,
A união de Zeus e Hera o céu abençoou.
Todos compareceram, semideuses e deuses,
Exceto Queloni, que a desfeita cometeu.
E pela ausência, em tartaruga se transformou,
Em silêncio, ao ritmo lento dos dias, desapareceu.
Assim foi a conquista de Hera por Zeus,
Um amor ardente, moldado em forma de cuco.
E entre as batidas de corações apaixonados,
Reside a história de um amor profundo e louco.