Lar

Sempre tive fascínio pelas janelas

E todo aquele sortimento de formas e cores e jeitos

As janelas arejam, renovam

Deixam entrar as surpresas que queremos receber

A melodia das aves, o perfume do orvalho

A volúpia do vento

O encanto da poesia

Abrir uma janela é abraçar a imensidão do mundo

As portas, tadinhas, não tem a graça das janelas

As portas são estreitas

Intransitivas

Ou abrem ou fecham ou encostam, só

As portas são polidas, entapetadas

Filtram as belezas de fora, prendem os anseios de dentro

Desatinam a natureza das coisas

As portas são bregas, todos de acordo?

Mas, meu bem

Como poderia eu preferir as janelas

Se meu cheiro e som e corpo e toque e alma favoritos

Tem esses passos miúdos, que só alcançam os degraus da porta

Ricardo Milek
Enviado por Ricardo Milek em 02/06/2023
Reeditado em 17/07/2023
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