Leonor
Súbito uma estrela surgiu no meu caminho
E eu abracei o pó estelar de onde provimos
E beijei a fonte de toda a Criação
E sorvi o teu brilho solar
E afoguei-me em ti
Nado agora no teu sangue
Sou um fragmento do teu corpo
Uma corrente elétrica no teu cérebro
Um fotão no teu pensamento
Um movimento ténue da tua alma
Quem dera que nos amássemos
E o rio da nossa existência abraçasse o mar tão largo
Mas não sei sequer se alguma dia nos conheceremos
E esta angústia mortal faz-me gritar e chorar
E atacar aquilo que amo para saber os limites do insondável
Ser humano muito lindo
Reconheces também a minha beleza
Para além das palavras para além da dor e do vazio
Muito para além de tudo que não és tu
Que não é o sonho eterno de Ti?
Mas eu não sei senão agradecer
E mesmo as palavras cruéis contêm esse apelo
Ao teu ser mais íntimo que deveras me conhece
Agora que talvez nunca nos encontraremos
Praia, mar, Vénus, choupo, jardim, pintassilgo
LEONOR... AMOR...
Famalicão, 31-07-2000