Jardim de vidro
No encalço do olhar
A flecha foi disparada
O vestido está guardado
O destino está traçado
A sorte já foi lançada
A cantiga criança
O castelo de areia
"Meu primeiro amor
Tão cedo acabou
Só a dor deixou"
E se esfarela, Vira grão
Desfaz teia
Eu sigo os teus passos
Me amarro em teus braços
Uma coisinha assim
Com medo de crescer
E do bicho papão
Mas dor não vem em vão
É teatro de bonecos
E sombra de assombração
Fiz de mim o que não fui
Vi em tu o que eu quis
Traí minha própria lei
Gritei a dor que não coube
Falei sobre o que não sei
Chorei sobre o que não soube
Perdi coroa de rei
Janela a janela
Muro a muro
Te vejo buraco da fechadura
Eu sou o que não queria
O ser estrangeiro
O homem
O olho que olha
Escopofilia
A pele expande astuta
A roupa já molha enxuta
O perfume se espalha mudo
Separados eu e você
Por um lençol de veludo
Me encarrego então
de segurar com as mãos
a jóia,
A charada sincopada
o segredo
a pedra intocada,
e amanhã fui zeloso
Como se na cor brilhante
Ainda sobrevivesse,
mesmo que bem distante,
O sentimento ancião
Furo minhas próprias órbitas
Durmo breu
E carrego comigo
O teu coração
Belo nobre amigo