A Peste (Amores da Pandemia) 1/3
Você tem medo da morte?
Talvez exista amanhã se tiver sorte
Morrer é apenas um sono profundo
Pensar que um dia deixará de existir
Que tudo um dia irá se extinguir
Causa desconforto
Um dia você está curtindo
E no outro
Está morto
A peste me pegou
Não perdoa
Mata todos
Tenho que me trancar
Com ela ficar
Esperando meu corpo combate-la
De todos me afastar
Para ninguém mais, a peste matar
Nasci sozinho
Morrerei sozinho
A tosse fica mais aguda
A cabeça está explodindo
Sozinho estou e sem ajuda
Não estou pedindo
Para morrer como herói
Apenas estou impedindo
Esta doença que corrói
Shakespeare escreveu tragédias
Interpretadas como românticas comédias
Na quarentena segundos são como dias
Dores
Sofrimentos
E agonias
Ausencia de alegrias
Em ato impensado
Totalmente imprudente
A porta a Estranha tinha cruzado
Estava em minha frente
De forma inconsequente
Exposta aos mesmos riscos
Aceitando que ali morreriamos
A linha da vida eram apenas rabiscos
Se assim o fosse para o fim mergulhariamos
Talvez o fim desse mergulho fosse o IML
Ambos gelados como picolé
Com a mesma etiqueta no pé
Jovens e inconsequentes
Enterrados em covas diferentes
Porém juntos pela eternidade
Ligados pela cumplicidade
Que os deuses da melancolia me perdoem
Aproveitarei cada instante
Antes
Que minhas vitalidades voem
Corpos colados
Salivas trocadas
Vírus em todos os lados
Não tinha como voltar atrás
É para todo sempre
Ou nunca mais.