Chorar...mas as lágrimas não caíam.

Chorar... mas as lágrimas não cairam.

Eu já pensei em chorar,

mas as lágrimas não cairam,

abri um livro para ler,

as letras nada me diziam,

fechei os olhos tentando encontrar o sono,

e meus sonhos eram tuas lembranças,

levantei para beber água,

e no meu copo teu rosto refletia,

tentei ficar sozinho comigo mesmo,

mas minha própria sombra me seguia,

o cântico da noite me socorria,

tentei não pensar em você,

mas meu coração não permitia,

tudo que eu queria era ti esquecer,

para isso faria qualquer sacrifício,

mas todos os lugares me lembram você,

a solidão parece me envolver,

em teia de aranhas, tão finas e resistentes,

tento rasgar com os dentes, pedir socorro,

a um beija-flor, mas a dor sufoca o grito,

então eu digo, com o coração aflito,

fiz de tudo para esquecer,

enquanto isso um cisco entra em meu olho,

e uma lágrima escorre pelo meu rosto,

um alivio penetra em meu coração,

a emoção vai embora, pede passagem a razão,

as lágrimas cicatrizam as feridas da batalha perdida.

Quanto a guerra? Não vou deixar de amar por causa de você.

Ricardo di Paula, 02/12/07.

TRADUZIR-SE

Ferreira Gullar

Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é ninguém:

fundo sem fundo.

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte estranheza

e solidão.

Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.

 

Uma parte de mim

alomoça e janta:

outra parte

se espanta.

Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se sabe de repente.

 

Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.

 

Traduzir uma parte

na outra parte

_ que é uma questão

de vida ou morte _

será arte?

Ferreira Gullar