POESIA DE UMA MÃE
...
Às vezes, filho de meu ventre,
Fruto de minha alma, cor do meu céu,
Muito de vez, quando em quando,
Observo seus passos no mundo,
Ouço sua risada na calçada,
Imagino seu cabelo desgrenhado,
Vejo você de novo na forma de menino.
Nesses momentos tudo me é alegria,
Pouco importam os tristes preguinhos
Nesse longo, lento e doloroso caminho
Iniciado antes do seu nascimento,
Agravado com dores infinitas,
Tantas noites de olhos e ouvidos atentos
Ao mais minúsculo trote de corcel.
Quantas vezes, filho de meu ventre,
Senti amargar a dor no peito,
Quis doer em mim tudo que o afligia,
Matei mundos e gentes, eliminei perigos,
Vigiei seu sono e sorria
com seus olhos
sonhando o universo mágico de criança,
Minha criança.
Um dia você cresceu, filho de mim.
Só pude assistir, de longe, quase escondida,
Os tropeços que tentei evitar,
As lágrimas que não podia enxugar,
O desespero de nascer novamente, ser adulto,
Ser adolescente, ser gente.
Eu orava, rezava, pedia, implorava:
Deus amado, meu Pai, nosso Pai,
Cuida do meu filho que também é Vosso.
Tantas vezes, filho, tantas vezes,
Encontrei a frieza no trato comigo,
Vi sua decepção de me ver como sua mãe,
Eu era pouco, era nada, era empecilho.
E justamente, nesses instantes de crua desilusão,
Eu ansiava por amá-lo mais e amei infinitas vezes mais.
O papel de mãe é simples, passageiro.
Quando muito e muito talvez não dure nem cem anos,
Somente o tempo até partir de vez para o céu,
Lugar dos anjos e santos e Deus.
Até lá, filho de meu ventre,
Busco ouvir seu riso na calçada,
Sentir o cheiro do seu banho,
Lembrar o abraço de nenen custoso,
Perder o tempo lhe vendo dormir, menino
Até lá, filho, filho, filho,
Até que se dobre por mim, o sino,
Estou aqui, estou aqui, estou aqui.