POEMA À RAINHA

 

Aos meus olhares ao passado, fiz dos neurônios imersos

No líquido amniótico, na placenta dos meus versos.

E das desgraças da pobreza, pariram em mim uma sina

De transformar as agruras, na mais sublime beleza.

Que ganhara há tantos anos, mas ignorava a grandeza

De um presente mui raro: da Sabedoria Divina.

 

A inteligência em si, não se aprende na escola.

E do nada a retira, como um coelho da cartola.

O que a ciência ensina, sim, nos traz sabedoria.

No entanto, há pessoas de saber atemporal

Que entrou em sala de aula, só em sufrágio universal,

Como minha progenitora, e sua mais fina filosofia.

 

Fui crescendo e conquistando a famosa liberdade,

Mas acabei ficando só, em meio a tanta maldade.

Ante ao modismo de então: terrorismo, ditadura...

E droga de toda espécie, consegui manter-me intacto.

Graças ao Divino Mestre, ou (ao) Espírito Paráclito;

Afastei-me dos “amigos” e da tal Contracultura.

 

Mesmo assim, de flor em flor voava qual colibri.

Mas eram flores obscuras, que eu bicava ali e aqui.

Pensava dessa maneira: suprir a amarga infância.

Como um cego apalpando buscava por vil metal,

E, insuflei as algibeiras; julgava-me ser “o tal”.

Era a peste mais daninha que se chama: ignorância.

 

Certo dia vi um vulto, que graças à luz da aurora.

Distingui, ao aproximar-se, uma macróbia senhora.

Era minha mãe querida que, ante um suspiro profundo,

Que não mais fazia parte, deste orbe pecador,

Abraçou-me a dizer: “em nome do Criador,

Cuidado, filho querido! De quão ardil é este mundo”.

 

Depois daquela visão, de puro contentamento.

Tocou em meu coração, um contrito sentimento,

Como eu fora desleixado, com a sua dedicação,

Fora a nossa Rainha e o esteio da casa,

A luz e o Carvão das trevas, dualidade da brasa:

Simbolismo das Colunas, no Templo de Salomão.

 

Pois bem, em uma noite agourenta

Que o inexplicável, ao nosso sono atormenta.

Notei o corpo imóvel, mas a consciência em alerta

Sentou alguém sobre mim, como fosse eu um trono

Seria um pesadelo? Ou paralisia do sono?

E aquilo me gelou todo, inclusive a coberta.

 

Mesmo sem mexer-me, sob a presença sombria,

Meu cérebro foi invadido por uma estranha alegria.

E ouvi um suave sussurro, talvez em voz pianinha:

“Sei que buscas desesperado,

Mas sempre em lugar errado,

A Alma Gêmea sonhada, enfim, a tua rainha”.

 

Enquanto a voz mansa aconselhava.

Na avidez ignóbil, mentalmente eu perguntava:

Tu és minha projeção, ou o meu EU amanhã?

E a voz: - “Isso agora não importa,

Não busques em estrada torta,

Mira-te no sábio Moisés em busca por Canaã”

 

Usara a juventude, como se nunca findasse.

Fizera-na de profissão, prazer e primeira classe.

Agora o tempo implacável cobrava-me um alto preço.

Cambiara-me a forma do rosto e a beleza estrutural,

Igualmente os endereços, de hospital em hospital.

Mas a ironia do destino fez na dor o recomeço.

 

Em uma dessas escolas, depois de um infarto agudo,

Onde a dor é a professora, e o coração o estudo.

Estava deitado imóvel; só liberto os pensamentos.

Eis que, um anjo surgiu vestindo um jaleco branco.

Com um copo d’água nas mãos e um belo sorriso franco.

Fez uso de um algodão; molhou meus lábios sedentos.

 

E assim, o desespero que, pelas chagas se alcança.

Consoante a um milagre; transformou-se em esperança.

Enquanto eu recuperava, a mulher de meia idade,

Vinha com sua ternura, trazer-me alegria e vida.

Sem saber que me curava da verdadeira ferida.

Que sangrara em silêncio pela minha mocidade.

 

O aluguel do amor e a compra de amizade.

Tinha sido minha rotina na interiorana cidade.

Mas no caça-níquel mental quando a ficha desaba.

Nota-se com tristeza; que a solidão se aproxima;

Que a realidade é perversa, e muda tal qual o clima;

Que se vai o artificial, quando o dinheiro acaba.

 

E, por fim, o Deus Pai da Criação.

Duplamente me curou; das dores do coração:

-Pelas mãos de um ser humano, aliviou a minha dor;

-Por sua divina mão, também me fez perceber:

As coisas não acontecem pelo nosso bel prazer.

E assim apresentou-me o meu verdadeiro amor.

 

Casei. Sou feliz agora. Oh, doce e amada Rainha!

O destino a Deus pertence e você agora é minha.

Ah, ia me esquecendo que ela se chama assim:

Regina é o seu nome, ou Rainha em latim!

Como fui te conhecer por caminhos tão reversos?

Mas o nosso Criador como sempre é grande e justo.

E, ao contrário do *Augusto.

Daqui por diante farei muito mais versos.

 - x -

 

Notas do Autor: Este Poema é uma homenagem a minha querida Regina, esposa, companheira e minha cúmplice há vários anos.

                            - Ilustração: Regina. Arquivo pessoal.

                            (*) Uma referência ao lendário Poeta, Augusto dos Anjos, em especial ao último verso de seu:

 

Poema Negro

 

"Ao terminar este sentido poema
Onde vazei a minha dor suprema
Tenho os olhos em lágrimas imersos…
Rola-me na cabeça o cérebro oco.
Por ventura, meu Deus, estarei louco?!
Daqui por diante não farei mais versos."

 

(Augusto do Anjos)

 

Luiz Carlos Gomes
Enviado por Luiz Carlos Gomes em 03/05/2023
Reeditado em 21/07/2024
Código do texto: T7778965
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