CASO PLUVIOSO

Caso pluvioso

A chuva me irritava. Até que um dia

descobri que maria é que chovia.

A chuva era maria. E cada pingo

de maria ensopava o meu domingo.

E meus ossos molhando, me deixava

como terra que a chuva lavra e lava.

E eu era todo barro, sem verdura...

maria, chuvosíssima criatura!

Ela chovia em mim, em cada gesto,

pensamento, desejo, sono, e o resto.

Era chuva fininha e chuva grossa,

Matinal e noturna, ativa... Nossa!

ANDRADE, C. D. Viola de bolso. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952 (fragmento)

Amo Carlos Drumond, com neologismo e metáforas transforma a vida e cada momento vivido, em poesia.

Carlos Drumond de Andrade
Enviado por TIÃO NEIVA em 22/04/2023
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