CHEIRO DE TERRA
Cai uma chuva fina,
que delicadamente
beija as folhas e o chão.
Cai uma pétala em desalinho,
no meio da escuridão.
Águas de chuva
são mais do que pingos,
são ouros gotejando o mundo.
Cai chuva sobre meu rosto,
escorre pelo meu corpo.
Lava-me a alma
sob este céu ditoso.
Rodopio sem cantar
para não acordar os anjos.
Rodopio sem parar.
Ah, chuva, que balançar
é a minha vida neste molhar.
Cai chuva fina em mim.
Eu continuo a rodopiar,
o tempo segue a passar.
Sorrio, pois penso que vou voar
Mas não possuo asas!
Num último rodopio
na madrugada,
caio entregue ao chão.
Molhada, cansada,
ardente de sede
pela madrugada.
Vê pois, nada tenho
Além da minha alma.
No entanto, minhas mãos
molhadas, frias e enrugadas
Sentem a chuva inebriada.
Cai chuva sobre o meu rosto,
leva todos os desgostos.
Nesta beleza encantada,
agora sim, paz em mim.
Posso dormir sossegada.
Sou cheiro de terra
Plena por ser amada.