Carta em Branco
Um tempo atrás escrevi uma carta a ti,
Carta que o destino não quis que chegasse,
Ainda lembro de cada palavra, cada vírgula e cada ponto vívido
E é por esta vivacidade que sua cópia é um desperdício.
Talvez seja a romantização da casualidade efêmera: o esquecer de enviá-la.
Talvez porque, para mim, a carta viaja imaterialmente pelos céus do Rio,
Paira sobre o ar úmido de Itapebussu enquanto te procura
E enfim repousa sobre uma das infinitas praias de Guarapari - como se feita de papel.
Talvez, para mim, seja esta a mais perfeita carta pois jamais será lida.
E mesmo sem certeza lhe peço que acredite como um faminto acredita em seus instintos!
Que fique com a carta que não há, e a preencha a seu bel-prazer,
E se é teu prazer sei que será precisa em cada palavra, vírgula e ponto final.
Da tua mente sairá a mais linda fala que eu nunca disse
Mas ainda assim será minha como as estrelas são do céu - como você é minha.
Assim que inventar tal fala, não me conte,
Sussurre-a a si mesma bem baixinho como quem faz amor escondido.
Então esconda o envelope vazio bem debaixo do travesseiro,
Deite leve como a brisa que agora toca seus cabelos,
Como eu gostaria de tocá-los através desta folha em branco enviada à tua casa,
E enfim durma, que também estarei dormindo
Então hei de encontrá-la na mesma praia que se encontra a nossa carta.