HOJE OU ONTEM
Muitas vezes te olho e me pergunto
Se eu amo quem estou vendo
Ou a lembrança da pessoa que conheci
No primeiro dia que te olhei e te vi
Talvez eu ame aquela alegria
Por quem me descobri apaixonada
Depois de um feriado na praia...
Passo muito tempo visitando lembranças
Perguntando se é você que eu amo
Ou aquele do gesto, da frase, do sorriso
Do toque, da palavra, do movimento...
Da presença ou da ausência lembrada
Faço essa viagem pela nossa vida
De onde saio cheia de saudades
Mas ainda sem resposta
Eu amo esse você que é e está aqui
Sorrindo ou sério, pensativo ou distraído
Ou eu amo um você da minha memória?
Memória que sei imprecisa
Que sei falha e manipulável...
Então de repente me pergunto
Se você não tem essas mesmas dúvidas
Se você também acorda lembranças
De uma eu que não existe mais
Que talvez nunca tenha existido
Penso que nós não somos hoje
As mesmas pessoas que fomos
Não somos nem mesmo
As pessoas que vemos agora...
E provavelmente nunca fomos
As pessoas que nossa memória traz
Quando evocamos o nosso passado
Talvez a gente nunca tenha se amado
Porque talvez a gente nunca tenha se conhecido.
Somos um conjunto de presente e passado
A que não temos acesso confiável
Mas mesmo pensando tudo isso
E muito mais!
Mesmo cobrindo de dúvidas a sua imagem
E a saudade do que nem sei se existiu
Eu olho para você agora
E sem acreditar na verdade que sinto
Sem saber se o que sinto é real
Eu sinto que te amo desde muito antes
Dentro da lembrança e da realidade
No passado e no presente
Só não sei por que nem como
Sei que te amo porque sinto que te amo
Não porque acredito te amar.