Só eu sei o que cabe na minha noite.
Aportei em cais e precipícios desconhecidos.
Arrancaram minhas âncoras e meu olhar escureceu.
Meu canto se desgastou ...
Minha alma dorme fragmentada
em milhares de cacos do espelho de si mesma.
Derrubei minha nave de sonhos
e tristes andorinhas voam sobre minha madrugada.
Minhas noites de deserto revelam
um olhar tosco e esfarrapado para a vida.
Não ouço mais o marulhar do mar, o silvo do vento.
Não sinto mais o cheiro das folhas e dos jasmins noturnos.
Esgotaram-se os encantos da noite.
Pra não viver só... durmo
com o silêncio de minhas ausências...
E acordo com o silêncio que, calado, me fala,
que atravessa a ponte de carcalhos e medos
e me toca os dedos de piano
por cima do abismo de saudades.
O silêncio que canta suavidades e ternuras
numa tênue passagem em nosso tempo de amor
suas partituras de luz escrevem iluminuras de paz
em meu amanhecer nascido de esperanças...
E o amor se encontra e revive
por galáxias luminosas e desconhecidas
universos de Andrômenas e estrelas nascendo
fazendo com que a vida se agigante
no sentido e plenitude de ser, amar e morrer.