O Amor em Pouso de Ave

Eis que eu te queria plena,

mas não com ares de entrega.

(Antes, o olho invasivo

da paixão aguda e cega).

Eis que eu te queria inteira

mas não assim, repentina.

(Antes, o corpo que aos poucos

é entregue a quem se destina).

Eu te queria fechada

sem janelas e postigos.

(Mas chave pronta em segredo

ao que não penso ou não digo).

Eu te queria nos ventos:

só por ver-te, me consolo.

Tu, o meu pássaro doido.

Eu, tua sombra no solo.

Eis que eu te queria calma,

mas não constante ou tão quieta.

(Antes, o denso imprevisto

de uma tela incompleta).

Eis que eu te queria louca

mas não assim, em conflito.

(Antes, linha que me solta

preso ao timbre do teu grito).

Eu não queria um amor

de sangue em vidro partido.

(Mas alma em pouso de ave

ao colo dos meus sentidos).

Eu aprendi que o teu nome

me liberta e me vigia.

Por isso te quero minha.

Para sempre. Ou por um dia.

===================

Para ouvir este poema musicado por Ricardo Freire,

visite http://www.jaimevazbasil.art.br