ENIGMA

E N I G M A

Para a Chris

Pediste-me um enigma,

em abstracto,

o mistério de muito nos termos desconhecido

enquanto fumavas as tuas cigarrilhas insólitas

e eu criava virtualmente a hipótese de te encontrar.

Enigma,

talvez a metamorfose diária que nos consegue igualar

depois da caminhada solitária pelas sombras

e dúvidas,

ou a imaginária condição de superarmos amanhã,

naturalmente,

os caminhos que sempre nos dividiram.

Enigma é dizer que ainda não conheço bem

os recortes do teu corpo

que em cada dia muda as cifras e as coordenadas,

inovando em cada toque sensações libidinosas diferentes.

Enigma é o mistério de nunca ser a mesma

sem raiz coerente que germine as mesmas folhas

e conserve o mesmo sabor nos mesmos frutos.

Enigma é querer saber afinal que enigma desejas de mim

quando translúcido me desnudo para saber o que diz

a tua consciência celular,

e morro vencido como um menino leucémico

na força do teu desejo.

Ou, talvez,

querer saber ainda quem tu és e o que sentes,

ultrapassados os primeiros mil beijos e as duzentas mil carícias

depois de percorrerem o latejar das tuas veias

e interrogar até à exaustão a razão do teu corpo ser tão quente.

O enigma maior – sou talvez eu

a tentar decifrar os teus gemidos,

a cor dos longos cabelos na minha boca,

a inusitada aventura que é esperar de ti

a coerência que não existe

na invenção nocturna da nova mulher que sempre surge ardente

improvisando e exigindo loucas incursões nos meus sentidos,

descobrindo e criando sensações invulgares na minha pele antiga

e exumando do meu coração morto

muitas novas horas de sublime amor.

Vitor Figueiredo

Lisboa, 29/Junho/2001

(do livro “Novas Memórias do Amor Impossível”, ainda não completo)

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Akhnaton
Enviado por Akhnaton em 28/11/2005
Código do texto: T77373