UMA LENDA

A minha alma
pode buscar conforto,
quem sabe, talvez,
na lágrima perdida.

A alma sofre a dor da ausência...

A dor de não estar na viagem
que leva do passado
o gosto enternecido,
a presença nostálgica,
a passagem...


O rosto do palhaço,
ilusão dos meus sentidos,

tristeza congelada,
furor dos desvalidos!

Eu choraria lágrimas de sangue,
se sangue ainda houvesse
a percorrer-me a face,

mas a face do palhaço
invadiu minhas entranhas
e um berro dilacerou-me,
como o estrondo nas montanhas!

O palhaço humanizado
afaga o filho, já crescido,

desce o pano,
cresce a lenda
sobre o gesto proibido.


19/11/92