Uma folha que cai tem um significado intenso
Ela move o ar em sua trajetória até o chão
Cria ondas ao redor do percurso que faz para morrer
Como posso olhar para ela sem sua força ver?
Como posso não perceber sua beleza
quando se desprende do galho e voa nas asas da brisa?
De que jeito não a amar quando caída, seca, ao chão?
Se ela se dobra - arrepia, mesmo morta,
quando uma tempestade se aproxima
para com seu próprio corpo nos alertar
do perigo que está a se aproximar?
Eu olho a folha que cai como a chuva
Eu vejo a delicadeza do seu desprender-se da vida
Não que seja o seu desejo, mas ela respeita o seu ciclo,
o imenso planejamento do universo
para o ir e o voltar dos galhos na música do vento,
o dançar frenético em meio ao temporal,
o amar e embelezar de ternuras
as flores e os frutos da árvore
onde se agarra ao caule e suas raízes.
São essas raízes que a mantém viva e verdejante
ao sabor do calendário das estações.
São elas que a nutrem, que a fortificam e fortalecem.
Por isso, não olhe para a rosa
sem a ver como de fato é...
Não olhe para o raso da casca,
ou para os espinhos do galho a te picar
ou para o véu que cobre seus olhos
não lhe permitindo a tudo ver, enxergar.
Talvez amanhã nem esses olhos que hoje tanto brilham
terão o dom e a dádiva de te ver,
talvez o cerne que alimenta e bomba
o sumo da vida para o todo dessa folha amanhã não bata mais...
Mas hoje, agora, tudo é vida,
tudo ainda é um florescer de sementes
Também a lágrima que cai pela face
que vês pela claraboia da janela do tempo:
desenha teu nome em laivos de amor,
enquanto percorre trêmula o rosto amado.
Desce dos olhos que tanto amas,
desliza calada pela pele seca da folha
para, de novo voltar ao seu interior
pelos lábios que, agora, tanto anseiam teu beijo.
É assim o ciclo da vida!
É assim o som da folha que cai,
a voz do canto que o vento faz
ao levá-la para onde ele quiser...
Que seja para dentro de teus braços de amor,
que seja de mãos dadas contigo,
para todo o sempre esse estar,
como nossos corações sonham e estão a amar...