Não fora este Oceano
Não fora esta inodora e insípida lágrima
de Deus, eu seria muito mais feliz e talvez
te avistasse do campanário da igreja
ao nascer do sol… de noite a lua
me guiaria num golpe de asa.
Não fora o amniótico abraço das ondas
conseguirias contar meus passos descalços
e até mesmo os movimentos dos meus abraços,
pequeno prazer comparável ao forte orgasmo.
Não fora a incapacidade humana de realizar
seus sonhos não seria violência esta distância,
como irisadas poesias das moças do Recanto,
e efémera seja esta poesia aos teus olhos
como pingos de água que caiem nesse Oceano.
Não fora ele…
Sentiria o teu perfume de flor.
Não fora ele…
Escutaria o canto da sereia?
Não! Então será tudo apenas ilusão?
Como é bom sentir os pés na areia,
este meu ser balbuciante de criança.
Não fora este Oceano como te viria?
Seria olhar os astros sem ver a Lua…
…inacessível a qualquer tipo de inspiração… fundo
como os fossos dos castelos medievais
e ira dos olhos que deixariam de ler minha poesia.
Não fora eu poeta além mar teria sentido
escrever e sonhar com as
asas das borboletas amarelas e o mestre rouxinol
que tem-me acompanhado toda uma vida.
Ahh como seria bom se fossemos estrelas
e desafiássemos o sol sem medo algum…
Não fora este mar revolto
talvez fosse potro selvagem…sem arção e sem brida
crinas ao vento…correria…correria indomável
como este coração de poeta sonhador.
Não fora tu existires eu morreria sem lápide
sem mar e sem poesia.