A ALMA TRISTE DO JARRO
Todos os dias ela vinha
Sorridente e toda prosa,
E depositava flores no jarro
Disposto na mesinha da sala
Do casebre amarelo.
Eu via o artefato de barro,
Sorrir de contentamento
À carícia daquelas
Mãos tão delicadas!
Passou o tempo. Levou nas asas
Do vento toda a fantasia.
Quebrou-se o encanto de tudo.
Até os pássaros quedaram-se
Ante tanta melancolia.
É que foi embora a bela Renilda,
A nossa encantadora princesa,
Um príncipe malvado a levou.
Choraram de tristeza as rosas,
Os lírios também choraram,
De dores padeceu o jarro,
E esse pobre poeta,
Que tantos versos
A linda dedicou,
Emudeceu, partido de dor.
E meu dolente canto se fez ouvir:
Adeus rosas do campo!
Adeus flores da primavera!
Adeus amores e sonhos!
Se foi a bela Renilda.
Nem esperou meu adeus!
Eu me disse contristado:
Que dor, que tormento ,
Ver partido, despedaçado, o jarro!
Aquele jarro,
Simples artefato de barro,
Tem alma, as flores
Que ele guardava também !...
Todas murcharam,
De tristeza tombaram
Com saudade da dona
Daquelas mãos tão delicadas ,
Que as conduziam ao jarro,
Nas manhãs risonhas e belas!
Nas tardes festeiras,
Mimosas, alvissareiras,
Nos dias de encanto e magia
A festejar os albores
Da Primavera !