Eu te amo primavera….

Rompe entre galhos de minha insónia o alvorecer

do desejo testemunha das sangrentas guerras de amor

onde bebemos no estio as lágrimas da velha aurora

que anseio agora jovem e bela como a quero escrever

sobre os túmulos das letras da infortuna e eterna dor

sendo que morrer não quero ainda…não agora…

Com os olhos secos do brilho migrado outrora nas lágrimas

que chorei nas páginas debotadas de uma vida rude,

vejo agora entre os galhos das amendoeiras em flor

entre os zumbidos das abelhas alegres e alvoraçadas

que o mel não pode deixar o travo de desgosto o mude

e o poeta num temporal desfeito borre sua história de amor…

Corro cantarolando na ilusão bebendo o dia que nasceu

numa metáfora que insistia sobre mim manter o escuro

onde desconhecia que o sol nascia todos os lindos dias

que assinalava na prisão traços fundos no muro do mausoléu

de uma solidão funda onde construi um penoso e alto muro

sem conseguir ver-te Primavera, nos prados onde corrias…

De cabelos esvoaçados como as mais belas espigas douradas,

espalhas perfumes e paixão reservando à saudade o remorso

em que ela me perturbava durante a vigília ao desperto sono…

O terno afago que ri agora nos meus olhos em contos de fadas

ofuscam nas frontes abatidas e cansadas do atroz extorso

dos pensamentos imortalizados pelo eterno abandono.

Sentado na pedra de granito que germinou nos campos lusos,

contemplo como és linda voando entre os olmos do caminho

onde as caducas folhas me contaram sobre a tua proeza

durante o festim de cores nos mantos verdes antes confusos

e gélidos fatigados pelo lento relógio do Inverno sem carinho

insistindo que és assim…bela…linda de natureza….

Os pássaros chilreiam contando a todos de minha liberdade,

provocando o entusiasmo na verde parra que cobre agora o muro

que de pâmpano em pâmpano saltam as coloridas joaninhas….

Aprisionadas nas tristes histórias que escrevi na dura castidade

em que desconhecia o quanto sofri por ser imaturo

escondido no escuro…longe das brisas em que tu caminhas…

Vesti-me a rigor e sinto-me nervoso ao ser anunciada tua chegada

pelas borboletas azuis que gritam…não tenhas vergonha nem medo!

Será que desespero pálido devora o rosado da vergonha? Quem me dera…

Anunciada vem linda, florida…meu Deus….por todos é aguardada!

Com medo de sua indiferença quero-me esconder saltando do penedo

antes que alguém perceba que estou apaixonado pela Primavera…

Fechei meus olhos castanhos maltratados pela escuridão do passado

e impávido senti tua mão doce virar minha felicidade do avesso,

senti teus lábios sacudindo beijos mil no rosado rosto que os espera,

e sussurrando um soneto em tom apressado e envergonhado

Acomodei a branda lei do amor guardado a sete chaves no verso

as quatro doces palavras…Eu te amo primavera….

Sessenta e Nove Sugestões Poeticas
Enviado por Sessenta e Nove Sugestões Poeticas em 26/01/2023
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