Segredo

SEGREDO

Certa feita parei,

Na areia, defronte o mar,

No horizonte agucei,

Com toda atenção meu olhar.

As ondas que pareciam,

Que ao meu encontro vinham,

Logo estavam a retornar.

Senti uma lágrima no rosto,

Aquecendo minha face,

Baixei o semblante com desgosto,

Até que a lágrima secasse.

Senti suspirar meu peito,

Na garganta um aperto,

Sem ter quem me abracasse.

Ali de pé tão sozinho,

Me senti um ninguém,

O imenso mar tão pertinho,

As ondas num vai e vem,

O vento a levantar a areia,

Que meu rosto esbofeteia,

Gritando o nome de alguém.

Procuro então curioso,

Mas nada ao redor eu encontro,

Rebusco o vazio de novo,

Meus olhos molhados levanto.

Me sento na areia molhada,

Me calo, não digo nada,

Apenas enxugo meu pranto.

Saudades tão repentinas,

De alguém que conheci,

A quem chamo de menina,

Seu nome não vou repetir,

Inscrito em meu peito está.

Talvez nunca o vá revelar,

Nem dizer-lhe o que senti.

Fica comigo o segredo,

Com ninguém eu compartilho,

Na areia estendo meu dedo,

Nela faço um rabisco.

Que o vento logo apaga,

Depois é extinto nas águas,

Que o mar trás a cobri-lo.

Ladislau Floriano.