buque de bem me quer mal me quer

pra mim o amor sempre foi como um murro na cara

uma faca afiada dia e noite pronta pra rasgar a pele

uma pedra pesada guardada no bolso ao lado do peito

uma flor morta dentro de um vaso com água suja

mas eu sou audaciosa, desafio a vida olhando profundo os meus medos

do meu amor eu faço

uma cidade inteira sem luz, um breu sob a imensidão das estrelas mortas

uma ressaca de risos num dia qualquer de sol

um café na hora do almoço cheio de conversas

um almoço em dia de domingo andando descalço pela casa

um abraço apertado e um cheiro no cangote

uma canção dançando dentro de mim

um homem desce o morro assobiando

mal sabe ele que o vejo

ele tem entre os lábios o sopro

mal sabe ele

o amor não pode ser café frio requentado pra visitas

o amor não pode ser como uma ferida que nunca seca

não pode ser sempre a mesma coisa

ser sempre a mesma coisa presa na idéia de que se pode viver o mesmo desejo infinitas vezes

o amor não pode machucar tanto, assustar tanto, amedrontar tanto, me desejar com tanta fome, com tanto choro entalado, com tanta mais tanta vontade de gritar que eu nunca aprenda a assobiar

do meu amor eu faço o que é possível

eu sou muito muito medroso

mais a vontade de ser, quem eu acho que ainda posso ser, me liberta para buscar o amor para o meu desejo

eu nunca quis algo muito grande

quase não tenho tempo pra sonhar coisas a dois, o meu amor me deu um dicionário pra entender o que ele diz, e eu queria inventar uma linguagem só nossa

do meu amor eu faço o que é possível

eu me faço e refaço

dos meus cabelos aos desejos sou todo entregue ao amor

não sei não ser

as vezes dói e às vezes dói menos

não permito acostumar com a dor do amor

porque sei que o amor não pode doer

então prefiro não lutar algumas guerras

OiAmado
Enviado por OiAmado em 11/01/2023
Código do texto: T7692522
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