Estio com flor e angico
(I)
Estio com flor e angico,
Canário, irré nem pardal,
Planície, montanha e pico
Não podem partir meu mal:
Desejo de amor distante
À dama da terra austral;
E o norte que versa Dante
De amor, cortesia e dramas,
Dessarte: são minhas tramas.
(II)
Razão, dama, como explico
Assim que vos tenho amor?
Audaz, verdes como fico
Se em vosso donaire e honor
Quiserdes testar-me o viço;
Escusa, porém, se error
Obrar eu num bel serviço
Roubando, sem maus ressábios,
Um beijo de vossos lábios!
(III)
Senhor, assaz temo o oblívio
Que augura demais o opoente
Visando um caminho em trívio
Guardada à mal-vinda gente,
Porém, não pequei no amor
E creio, tão firme e crente,
Que se ele 'inda tem honor,
Teremos os votos francos
No altar, sob dejúrio branco.
(IV)
Vilã, vos apreso em bívio:
Podeis me visar concórdia
Trazendo-me alvor de alívio
Ou serdes pendão-discórdia
Findando sem pena a morte
Com fel, desprazer, mixórdia
Afora que o amor suporte!
Não sedes vilã na história
E igual a feraz escória.
(V)
Que amor se aquiesce ao rico
E pouco consente o justo
Malgrado o saber pudico,
Repulsa por alto custo!
Babel senhoreia o amor
(Um garbo que é tanto injusto)
Do qual rompe mau cultor:
Qual sei algum ser incasto
Mas eu, no amor, vivo casto.
(Tornada)
Compôs Alexandre a Cobla
Co'o verso e com par canção
Sem nunca ater má tenção.
(Envoi)
Espalhe, joglar, a escrita
Que alfim versei sem desdita.