"O amor feito flor, feito fruta, feito frase de filme de terror"
O amor já se machucou por várias vezes
Pelo vinho desmedido bebido em excesso
Pela voz alta, por poucos e rasos prazeres.
O amor já estancou buracos invisíveis aos olhos
Cobriu e aqueceu quem percorria o caminho ao relento
Até quem fingiu não sentir e fez piada sobre ele o tempo inteiro.
O amor já secou, murchou e voltou
Ao estado inicial de semente, pra brotar
Em outra casa onde o mesmo andou ausente.
O amor Já marcou de batom a gola, a taça,
A carcaça em forma de ameaça
Caso aquele sentimento ousasse ser de mais alguém.
O amor já se perdeu na fumaça,
Já perdeu a graça, visitou a França
Foi desculpa pra doer na despedida, pra promover desgraça
Trouxe boas lembranças e um ligeiro veneno
Pra reforçar o fato de que o amor acaba
Por pura incapacidade daquele que o manuseia
Por culpa da impaciência de cultivar aquilo que ele mesmo sustenta.
O amor é passageiro, viajante, vigente
Por prazos e pessoas indeterminados e há quem pense ser diferente
Até que simplesmente é expulso do peito
Pelo mesmo sujeito que ali o acolheu.
O amor manchou a própria reputação do amor
Em bares, brigas, arruaça, ao não saber medir as proporções
Em canções de falso amor, em desfavoráveis condições
Pra fazer sucesso, pra vender ingresso, pra inventar o sofrer.
O amor se submeteu por não entender o próprio valor
E acabou por se vender ao invés de ceder ao sentir.
O amor já se confundiu ao se subentender
Deixando assim de ser amor e afins
Encontrando ainda antes do começo um fim.
O amor partiu deles, partiu delas, partiu pra longe, partiu de mim.
O amor que já foi encaixe, não resistiu ao desgaste
Foi ser outra coisa pra outra pessoa, quis se redimir.
O mesmo amor me fez um homem melhor
Também fez experimentar o oposto, o pior.
Porque o amor, ainda que próprio, não deve ser semeado a sós.
Não é só sobre nós, nem há regra que o proíba
De ser mais do que a dois, se após isso ainda houver amor.
O amor por fim desenvolveu a capacidade de se adaptar
Coube em um quarto pequeno quando era maior que uma montanha
Preencheu o espaço de um ano inteiro fracionado em migalhas
Acordou sem nada, querendo tudo, em uma manhã estranha,
O amor prevaleceu, mas nem mesmo o amor previu
E assim não pode prevenir o estrago do desconhecido
Sobre o amanhã e o que está por vir.