Não sei encerrar o poema sem te amar.

Eu te amo, de um amor primitivo,

nascido na constelação maior

e que se funde com as quimeras

de um planeta que sou eu.

 

Planeta, esse, que você desbrava cada dia,

quando vens com teu barco e atracas em meu cais...

Em meio às cores e nuances da névoa, chegas

e encostas teu remo para que eu possa saber

que é você que chegou, o guerreiro ousado

e pronto para a luta, para a guerra.

 

Luto contigo amor, porque sabes como menear

a arma em uma batalha particular

com uma deusa de asas raras,

dona de um planeta de águas de fogo.

 

E tu vens... meu guerreiro do tempo,

meu guerreiro de longa data, tu vens...

e atraca teu barco em meu cais.

 

Em meio à névoa não posso te ver,

mas posso te sentir, sentir o teu cheiro inebriante...

Ouço quando jogas a corda e laças o tronco de meu cais,

depois, com teu remo, o tocas, tocas cada tábua com teus pés de Sol.

Testas a firmeza da madeira, tocas... para que eu saiba,

para que conheça a tua força, sinta a estrutura

e a firmeza de teu barco feito de carvalho,

teu remo amadeirado, o calor e a vida que emana de ti

e procede de tuas longas viagens pelos mares

mais loucos e mais bravios de nosso universo.

 

Sinto a brisa do vento soprar as bandeirolas do meu cais

fazendo dançar os líquens que trazes sobre teu casco.

A brisa vai se transformando... aos poucos...

e sopra um vento de tempestade em mim...

Então, desces do barco e caminha pelo meu cais...

caminhas com o som de um tambor em cada tábua...

teu peso fazendo barulho na superfície amadeirada...

 

O vento me entrega o cheiro das especiarias

que trazes no lenço amarrado na cabeça,

o cheiro das especiarias e temperos picantes e ardidos

que trazes dos planetas que visitastes,

da pólvora do teu coldre e das flores amarelas

que colhestes com tuas próprias mãos nos campos

de cada terra por onde passastes para me trazer...

 

Recebo tuas flores amor... emociona-me a cor de Sol

de cada pétala e a textura forte e bela de suas hastes.

Seguro-as com minhas mãos que tanto lutaram contigo amor

Abraço-as e aspiro seu perfume ancestral e inebriante

que herdaste, junto ao óleo de Argan, dos sábios

e dos especialistas das constelações que desbravastes

em tua longa jornada para me encontrar... 

 

Derramo o óleo sobre minhas vestes de plumas,

para que meu corpo seja, com o teu, purificado

e preparado para a luta do século, 

a luta da deusa do planeta Mursi

com o guerreiro da galáxia de Andromeda.

A luta, ritualística e cósmica, pela união de dois guerreiros 

para em um só se transformar e a eternidade do amor conquistar.