Amálgama Pagão
Eu vi o nosso amálgama
Refletido no espelho d'água no recôndito do tempo.
De prata o brilho fundo nos teus olhos ao me ver.
Eu, tua religião.
De ardósia a chaga dura de minha afeição, antes de te ser.
Você, meu culto pagão.
Você, que há de chegar.
Você, que percorrerá toda esta trilha deixada pelos meus passos em brasa.
Você, que recolherá com devoção, do alto daquela montanha assombrada,
Onde, feito deusa obscurecida, fundi na rocha profunda o meu coração.
Longe do alcance das mãos enxovalhadas dos típicos homenzinhos.
Esses seres fantasmagóricos de idealizações fátuas.
Não, a eles apenas o olhar distante e alto da minha face.
Há neles a marca dos meus dentes, mas não a água-viva do meu ventre.
Guardo docemente a visão do nosso encontro, não apresso a sua chegada.
Habitar a tormenta não me assusta mais. Sou toda espera e reticências...
Pois sei que haverá uma única pele, um só beijo, una-alma.
Apenas a nossa simbiose de seiva, sangue e mar.
Recriaremos o espaço-tempo, enquanto a língua oceânica nos falará
Segredos de sal e Lua.
Sigilos de argila e Sol.
Nu, Nua. Salgados. Somados.
Silentes, sôfregos e intermináveis.