Quando o rouxinol se alenta

(I)

Quando o rouxinol se alenta

E regressa a florescência

Co'o verde, azul e magenta,

Como Jaufré sinto a ausência

De dama em longe pertença

Nem da Germânia ou Provença,

Mas no merídio domínio

Em plena ansa de gramíneo.

(II)

Azo em mil cento e sessenta

Me dera asas e a tendência

De amar senhora cruenta

Co'ardor e a resiliência,

Mas ribeira em má nascença

Não será rica ou extensa

E vasta em verde domínio

Nem maior que meu fascínio.

(III)

Nunca a vi, mas me apascenta

Tanto com vossa aparência

Que nas vezes de tormenta

Fabulo em minha dormência

Com casamento e com tença,

Com vosso amor e mantença

Vista no alegre fascínio

Contra o difícil desígnio.

(IV)

Pela terra nevoenta

Me dirijo à deprimência

Quando de noite me aventa

Aura fria de plangência,

Fria aura que não me avença

De manter igual valença

Para tê-la em meu domínio

Usando um preto véu líneo.

(V)

Em desejo encontro amenta

Que não lembro mor urgência

Além de ater a ciumenta

E a malavinda carência:

Querida, por grande crença

Faço ao cortejo defensa

Por seus lábios curvilíneos

Sem estorvo ou escrutíneo.

(VI)

É garbosa terra e benta

Essa que ela tem vivência;

Essa que é bela e alvacenta,

Meiga por vossa inocência,

Que quando viso eu descrença

Logo alvoro a parecença

Com saber e raciocínio

E com semblante apolíneo.

(VII)

Deus, tenhas de mim amenta

Com direito e providência,

Sem vontade breve ou lenta,

Que assim terei experiência

Na galhardia e em valença

Por direitura e pertença,

E com graça e patrocínio

Não serei como Flamínio.

(Envoi)

Fazeis por mim a presença,

Canção, co'amor e fervença,

Sejais bom e retilíneo

E causeis nela o fascínio.

De Lágrimas
Enviado por De Lágrimas em 25/12/2022
Código do texto: T7679537
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