Pássaros Coleiros. 

 

E assistimos suas revoadas noturnas

em busca de raízes da terra.

E seguimos suas asas, em seus revoos,

pisando seus rastros de verão,

a nos aquecer com seus sonhos

e o suave e inusitado canto de seu voo.

 

O bater de suas asas nos leva

para onde o sonho começa

e nos acorda, pássaros,

um corpo e duas asas,

mas dois em um só coração. 

 

E ele vem.

 

Foi tocado pelo mestre da vida,

que sua alma roçou,

lenta e amavelmente,

de sua morada

além do perto que está. 

 

E voa o pássaro

de duas asas

e dois corações. 

 

E faz a hora dos simples,

quando o corpo passa

e roça a alma e a leva consigo

no voo das estrelas. 

 

E plana o voo no dia

que chega e passa lentamente.

 

Seus rastros deixam cair

o aroma das ameixas,

nas mãos que tocam almas

com o seu cantar.

 

E, na solidão de seu voo,

plana suave por sobre o medo

e as nuvens de tempestades,

plana, independente

dos ponteiros do relógio,

sem olhar o cansaço de seu voo,

sem perder o horizonte dos sonhos

e do amanhã que se faz hoje. 

 

E o pássaro não se importa

com ranhar do mundo sobre seus voos,

não se importa com que ainda falta realizar,

voa, e voa planando, sonho no bico,

asas nas mãos (mesmo quebradas pela vida),

voa em busca do seu infinito,

do infinito de um sonho,

da eternidade do amor. 

 

E faz seu revoo de amor

no noturnado do tempo,

na noite que agora começa,

nas mãos dadas

em torno da mesa

vazia de tristezas

- ameixada de felicidade

e beijos de luz -

onde o hoje foi ontem

e o agora somos nós

pássaros coleiros

em nossos voos e revoos

ao infinito.