Eu te beijo, te beijo

com meu beijo doce de água-de-amor,

beijo que lembra arroz de campo

e que nunca vai embora,

que não se apaga

e acende o fogo para ferver. 

 

Te beijo com meu olhar castiço,

azulado e em guerra com um céu

que plaina o hoje, olhar

com presença vital de sol.

 

Te beijo e te faço um carinho,

como o vento que passa em carícias

sobre a montanha, como o sol que aquece

as pétalas orvalhadas da flor,

como  a mão bondosa de querências

que dá pólio aos pássaros,

a rubra ave que sou. 

 

Te beijo fazendo tempestades,

como ciclone-bomba

arrebentando teus telhados

e te tirando do prumo,

desalinhando tua vida.

 

Te beijo, como beija o coração da mulher,

o cordão de ouro em seu pescoço,

como a espada mágica que luta perdulária

para amenizar a dor do poder

que se torna mais poder,

do amor que se torna flor arranhada.

 

Te beijo porque a vida não para.

Um dia é assim, noutro é diferente.

E nem o espelho consegue ver,

quem dirá refletir

o que a vida faz com a gente. 

 

E é nesse céu desvairado

que a página em branco

do caderno de nossa vida

- um dia - será escrita.