Tantas páginas em branco em nossas vidas.
Tantos cadernos que ainda podemos escrever.
Aguardam, silenciosos, a mão de nanquim
deslizar sobre suas folhas e derramar a tinta
que dará vida às linhas invisíveis de suas raízes.
Um beijo e o mundo acorda de seu adormecer de milênios.
Não compreende o todo, mas sou metade dele
e assim sigo como até aqui vivi.
Não existem guerras ou conflitos a se fazer.
A paz dos campos e dos trigais
já mora em mim desde que descobri,
no vago do tempo, quem sou e para que e quem nasci.
Não há nada que mude a disposição
de um coração que ama o verdadeiro amor.
Não existem barreiras ou impedimentos
para um amor que já é eternidade
do lado de cá da parede de cristal.
A vida se faz presente nas pequenas coisas
que, talvez, talvez, o sol - porque há dias
em que chove chuva - não percebe.
Na palavra que se desenha,
no corpo que vai ao encontro,
no beijo dado em quase todas as manhãs
ao desejar um dia bom.
E tanto já foi escrito. E tanto já foi dito.
Mas, o caderno jaz sobre o tampo da mesa,
e as páginas em branco se agitam à mão de carinho,
ao afago do vento, à tempestade que sopra desvairada
e ameniza o amor cuja história, um dia, ainda vai,
por minhas mãos de nanquim,
em meus dias de céu, ser escrita.