Também ouço o canto da passarinhada
da minha janela do tempo.
Aguardo a passagem
de um canto inusitado e belo
que passa por minha janela.
Em minha janela tempo
e espaço são um só,
se confundem em esperas
deste canto que não enfada,
desse canto que explicita a nudez
de minha alma em cada nota escrita.
É quando ouço esse canto
que faço minhas pausas
e destilo minha voz,
em goles sem métricas
e de rimas incertas.
És tu, o pássaro de luz.
Se te bastas e não te calas
minha alma se anela
em tua voz ancestral.
No teu dizer descontraído
e sem cordas,
quando me ouves,
meu canto de dentro
da minha gaiola
que todos os dias abro
para voar ao encontro
de tua janela que acolhe
o meu canto
e o repassa, torto em pé,
em tuas manhãs
que glorificam o amor.
Se meu canto te encanta,
se belo é, reflete a ti, é espelho do teu.
Se choras eu choro, se ris eu rio,
se danças eu danço,
se amas é te amando
que a vida me sorri.
Se meu canto te alegra o coração
e repartes essa felicidade, é um dom,
a dádiva de partilhar o que temos
e nos faz bem ao coração.
Quando canto é a ti que olho.
Quero fazer o canto mais belo,
que seja teu e te faça todo encanto.
Também que te leve à alma acalanto.
Meu canto é pólvora.
Que acorda teu coldre
e dispara teu pranto
em minhas arruelas
de teus sonhos.