Atemporal Azul

Que te leve o vento até mim,

que desdobre o tempo em dois,

um para ir, outro para voltar ao mesmo lugar

de um espaço atemporal de um mundo azul

que somos nós em nossas viagens para viver o amor.

 

Que te leve o vento o meu sentimento

e que o desfazer dos laços seja

de nossa liberdade em ser pássaro

em voos e revoos na madrugada,

nas manhãs ensolaradas de vida

ou no momento de o dia adormecer.

 

Que te leve o vento o sopro de minhas ânsias,

que sejam ruelas a te prender no poema,

neste, que te descreve e desenha na voz do silêncio

deste auditório de ninguém.

 

Te vejo em cada cadeira em frente ao palco,

olhos presos em minhas asas,

nas pontas das penas que tecem teu alimento diário,

na tinta que pinga sobre teu pergaminho em branco

cujas páginas escritas e desenhadas

são arrancadas pela tempestade e o caos do voo

para, mais uma vez, iniciarmos a obra

como se não houvesse o ontem (e não há)

e nem o amanhã (não há).

 

Que te leve o vento os lírios dos meus olhos

para que eles se libertem de suas pétalas

e possam ver a magia que há na Ilusão criada,

na Utopia que se realiza em nós e no nosso tempo.

 

Que te leve o vento o segredo de nosso andar na contramão,

um indo e outro voltando e no estrondo desse encontro

em meio às trilhas das florestas, entre pedras e cavernas,

esconderijos para se construir castelos

e plantar flores orvalhadas das águas que caem do céu,

acertando os pontos, mirando as teclas da vida

que despertam o sentido das emoções,

a força dos sentimentos, as ondas

que nos fazem parar de respirar e gritar por mais vento,

pedir por ondas intempestuosas para dropar nosso sonho em suas alturas.

 

Que te leve o vento o meu sussurrar de dentro

enquanto para o mar não olhava,

mas sentia suas vibrações e esperas de conchas e pedras

que rolassem dos areais e dos penhascos

para dentro de sua floresta de profundezas,

onde algas e líquens se confundem,

se entrelaçam em um só lugar, em um só caule com hastes

que batem e giram levando as ondas e as águas para o alto

onde o Sol as aquece e as torna leves e incandescentes

como as labaredas de um fogo bom

que dança a música do imperador

no silêncio e na quietude de um abraço

que não sabe o que fazer com tanto desejo

que lhe percorre cada dia mais atrevido, mais intenso,

mais ansioso e urgente, cada dia mais intempestivo... insaciável...

as horas quietinhas fermentando o desejo e a espera

que eu também tinha, tenho de estar contigo agora ...

assim, assim, na hora do Ângelus, no bater dos sinos sagrados

que comemoram conosco a vida, o amor pleno e verdadeiro,

que nos faz ser um no imenso tapete de luzes

que se estende em nosso coração que aprendeu a amar

e reconhecer esse amor e o desejo de querer estar junto,

de se amar, de não deixar mais apagar a centelha,

a chama que faz a fogueira... que me toma inteira

 

Por isso, planejo, sonho, penso, planejo, sonho,

rio pensando, planejando peripécias, diabruras, enigmas,

choro pela dor, pela urgência,

pela necessidade premente, insuportável, dolorida...

sorrio pelas vivências que não entendo como acontecem...

que tipo de chip mora dentro de mim

para receber toda essa energia de você?

que tipo de contato aciona o gatilho do meu corpo

e o une ao teu mais profundamente nesse momento nosso,

que acho tão puro, tão belo, sagrado

porque faz de dois corações que se amam um,

excitante porque desperta todos os sentidos,

inebriante porque embriaga e faz querer mais,

faz buscar sempre de novo você...

sensual porque é nossa gênese,

 

Eu, na minha vida já tive fases de viver essa intensidade

e outras de derrocada... já vivi todas elas...

mas com você, em cada poesia percebo um sentido...

se é, só você pode falar, mas eu sempre via a dualidade das palavras

então respirava com meu jeito 'santo' para não te assustar...

como já te assustei tantas vezes com a intensidade do meu amor... 

 

Mas agora, aos poucos, consigo me despetalar...

e deixar você me ver com mais clareza,

você ver o que já sabias, o que já sentias...

e, penso, sempre pensei... procuravas 'conter',

como se fosses a barragem segurando as águas

para não despencarem morro abaixo,

montanha abaixo, destruindo tudo.

 

Então, hoje, eu sei despetalar

sei me abrir para você sem medo

consigo ser verdadeira em minhas memórias dos sentidos

Olhar em seus olhos, mesmo em silêncio,

e deixar que te digam o que te sinto.