"A vida nos faz gratos pelo tempo que passamos ao lado dos que partiram de nossa mesa de amor. As saudades e dores que vivemos são como a dor das árvores serradas e carregadas para a caçamba dos mortos".
Não se deixe abater pelo que não entende,
pelo que não compreende
e, passado o tempo,
continua rondando teu espírito,
continua trazendo dor e sofrimento.
Não se deixe abater...
Às vezes, também tenho medo
de viver a solidão das perdas.
Tenho medo de estar fazendo pouco
ou quase nada por mim
e ser eu essa quase-morta
que ronda o mundo
de uma manhã de poesia.
E, talvez seja.
Talvez ainda não saiba,
mas precise enfrentar
mais uma morte
para continuar a viver
a eternidade de luzes.
Não frenquento
mais auditórios de ninguéns
que, quase-vivos,
planeja a morte de ninguém.
Sei que ninguém sou eu, é você.
Que acredita em todos
e por isso vive a dor da ingratidão.
Que não percebe a maldade
e se deixa por ela abater.
Por isso, quando falo,
falo comigo, falo contigo,
em meu silêncio,
em minhas sentidas dores
de um cansaço
que não ouso explicar, só contar.
Não se deixe abater pelo sofrimento.
Não se deixe abater
pelo que não entende
desse teatro da vida
que leva os vivos
e traz os mortos
para o palco central.
Eu não sei me arredar disso.
E não sou eu quem vai dizer
aos quase-vivos que já morreram,
mas sabem disso.
Por isso, quero ir embora contigo
para essa vila distante e sozinha
onde só nós dois podemos ficar.
Quero morar nessa Monzavilla,
terra boa, de gente que sabe
que amar é amar
e gostar e gostar.
Terra onde se encontram as almas
que compreendem
que o mais que é menos é mais
e que sabem que no amor
todos perdemos um pouco de nós
para que possamos somar ao outro
e tornar-mo-nos um só.
Não há como somar
sem perder
na matemática do amor.
Foi amando que descobri o meu outro lado,
meu outro lado de luzes e flores,
e dele não quero me desfazer.
Por isso, trago os sentimentos
forjados em aço puro
e me deleito em pensar
na força desse amor
que já nasceu iluminado
por asas de anjos
numa terra de milagres
e choupanas de felicidades.