Os tempos se confundem.
O passado pode ser o presente
e o futuro já pode ser esse instante imediato
ao que lhe olho pela claraboia da janela,
sem lhe ver, mas sabendo-te e sentindo-te ali.
O tempo é relativo.
Interage com o espaço e dá respostas
que, muitas vezes, não queremos ouvir ou reconhecer.
Nesse espaço do tempo que se chama presente
- e não é seu passado - rondam
mortos e vivos, sombras e luzes.
Espíritos, sombras espelhadas
e trincadas de velas -
tudo se mistura num único bramir.
Falo do Casulo dos Vivos
que carrega caixões de vivos e mortos
entre as frestas do tempo.
Um presente não é passado
e, sem ele ou com ele,
nunca vai pisar no futuro.
De nada mais importa.
Quem vive e morre não conhece
a passividade das almas,
nem a luz de uma vela acesa
sobre o parador.
Ilumina até o mundo.
Rodopia e ilumina
até a parte mais escura da vida.
Quem morre, vivo está.
Não há ingratidão neste solado
de uma choupana do futuro.
Se no futuro não há presente,
nem passado, não há porque sentir ingratidão
ou ter medo de assombros que nos assolam.
Deixa que nos rondem
o que quiserem de medos, assombrações
ou espíritos vazios ou não.
Deixe que nos rondem,
enquanto dançamos
a música das estrelas
com nossos colares de ouro,
e olhos de fruta-pão,
dos eternos ao pescoço.
É noite, quieta e falante ao mesmo tempo.
Nessa noite, a busca pela paz
do adormecer sobre os sonhos,
de por eles lutar é a visão
que se pode ter neste espaço,
neste casulo de amor e luz.
Por isso, não se assuste
com as prementes maldades
apreendidas pela flor.
São venenos que todo pavão engole
para nos libertar
de nossas próprias assombrações,
de nossos medos e angústias.
Não se arrede.
Viva!
Só vive quem quer lutar
e só morre quem lutou
e a guerra perdeu.
Na guerra em busca da paz,
todos perdemos.
Na paz, morremos.
Somos os mortos
e os vivos de nossa eternidade.
Que possamos sempre viver
morrendo e renascendo
em nosso, iluminado,
Casulo do Tempo.