Inquietudes e angústias
também perpassam os meus pra dentro.
Fantasmas da meia-noite, muitas vezes,
se transportam ao presente e tentam nos amedrontar.
Tenho medo de ter medo.
E sei que também tu tens.
Tenho medo da fragilidade da vida
e dela partir com meus sonhos nas mãos do coração.
Também me vejo envolvida em brumas e neblinas
que te rondam na folha do tempo há tantas
e tantas horas da eternidade que já passou.
Há um medo que me assola
e faz o coração bater rápido
a cada respirar quando nele
eu considero: perder você.
Eu não suportaria.
Não haveria mais motivos para viver.
Os momentos com você,
quando me entrego aos teus braços
e os sinto ao meu redor,
acalentando minha alma e meu coração
são os mais especiais do meu dia.
Minha ânsia por eles beira o absurdo.
E, cheia de urgências, me quedo,
tentando disciplinar minhas vontades, sem sucesso.
E por mais contraditório,
é neste momento que me sinto mais livre.
É quando me solto de todos os laços,
menos o que me prende à você.
De fato, não há paz nesta tempestade.
É que você chega como vendaval
derrubando todas minhas convicções
sobre impossibilidades de amar como nos amamos.
E te amo há decênios de milhões de horas do tempo.
Mas nunca imaginei a raridade e o inusitado de nosso amar.
Você adentrando meu corpo enquanto te olho
para dizer que te amo e te desejo.
Olhos nos olhos nos tornamos um só corpo
e tão cósmico é e, até certo ponto, inacreditável.
Se não estivesse sentindo você em mim agora, não acreditaria.
E é tão intenso teu navegar em mim que fico muda.
Ainda mais que não queres sermão, mas coração.
E o meu é completamente teu.
Não tenho medo de te amar,
nem vergonha ou timidez em revelar.
Já o sabes pois tens meu sopro de luz em tuas mãos
revelando-te isso em cada linha
que dedilho e há eternidades de tempo.
O pouco das horas é dor
que corta com o aço do tempo.
E nossa solidão se fez de escadas
em que um não descia e o outro não mais subia.
E, ao subir ou descer, enlouquecidos,
não nos achávamos
nos desencontros dos ponteiros da vida.
Mas o aço não foi suficiente
para cortar o flamejante da vida.
Esta corda, esticada por sobre o abismo,
nos permitiu caminhar sobre brasas
até tatuar na sola dos pés
as marcas de nossas procuras.
É assim que minhas mãos te encontram
e te trazem, te chamam para mim.
Nunca, senti teus abraços.
Nunca, sentes meus abraços.
Sinto que perdi.
E você também.
No lagar do tempo,
sobre o patamar de um farol de céu,
meu egoísmo, muitas vezes,
não permitiu o teu bramir
pela vitória da conquista.
Isto corta como aço e dói mais
o sufocar da respiração,
a necessidade de respirar todo o ar do mundo
para sentir o intenso viver.
Sei como é.
Também já fiquei como louca
dentro de um castelo de vazio.
Antes de eu chegar lá, ergueram
as bandeiras da vitória
e eu ainda estava
no meio do tempo de guerra.
Assim, não precisei muito lutar
para chegar a conquista da vitória.
Ela me foi entregue pelo vencedor.
Perdi, sinto, mas perdi
estando no campo da batalha.
Eu estava lá.
Armas em punho,
- flechas azuis apontadas
para todos os lados -
cheia de sutilezas e estratégias.
E foram elas que deram a vitória
ao guerreiro que lutava comigo.
Não existem palavras
para expressar as perdas,
só se houver o repetir da história
para lutar, da próxima vez, em sintonia,
com sincronismo e perfeição.