Dia dos Poucos
Tenho saudades deste tempo
em que podia tocar
as bordas da saia da avó,
andar à cavalo ou charrete.
Também me cansam os prédios sem face,
as pedras afiadas e o cimento
que não fala nem que se obrigue.
Não conheço as Ruínas de Badaró.
Nunca ouvi falar.
Podia até ser eu, que não saberia.
Mas, se ruiram com dedo de agulha
e se desmancham no dia de poucos
devem ter sua importância.
Ainda mais se a ela se deve esse cair,
se a ela se deve esse azedar.
É o azedo que faz a diferença
entre o sentir e não sentir.
É nele que podemos nos perder.
Ele dá sabor a qualquer reino,
a qualquer acerbo.
Não esquece que é ela
que perdoa os contrários.
Que é ela que senta
no patamar do colo do rei
e de lá implora um adeus
contra a lágrima partida
do sol que toca
minha pele em dó maior.
Que o sabor azedo
da vida nunca se cale.
Que seu brado,
em alto e bom tom,
seja ouvido
pelos vizinhos
para que saibam
que o rei está,
Feliz.