Ainda bem que é só às vezes
que as coisas são porque são.
Por isso, podemos duvidar
e até permear com o destino.
Não é ele que traça
nossas horas e confeitos.
Somos senhores
de nosso próprio tempo.
Nós fazemos escolhas.
E, dependendo
de nossas escolhas,
o destino está traçado.
Então, sim, ele é como sino
que faz de nossa vida
uma orquestra de idas e vindas
até nos encontrarmos com o nada.
Ter nada é o propósito de quem vive
a vida com o verdadeiro amor.
Embarcar no nada, abraçado
em suas bandeiras e cores,
entrelaçado ao mastro central
dessa nau desgovernada.
Não duvide do que vês.
Em alto mar as ondas
parecem mansas,
mas são gigantescas.
Por isso, não discuta
a intensidade de hoje,
porque nunca sabemos
o que vamos hoje encontrar.
Sempre somos supreendidos
pelas sutilezas da vida
que cria peças
e guarda mistérios e segredos
sobre seus enigmáticos mapas.
Por isso, use as Chinelas do Eterno.
Calce-as para caminhar
até o côncavo dos ermos.
Lá encontrarás uma passagem de vãos
que te condenará ao brando
e ameno intenso e lustroso,
com sutilezas que ferem
e provocam vergões,
mas, depois, poderás
solicitar teu perdão.
Depois de passar por lá
- e sentires as bolhas estourarem -
nada mais será igual.
Chinelas, bondes,
chaminés e jardins
estará tudo misturado.
Não saberás mais
onde é o início e nem onde é o fim
deste território dos Eternos.
Nada será olhado da mesma forma.
Nada nunca mais será o mesmo.
Tudo estará invertido, avesso
e desvestido de si...
A transformação da vida é vital.
A ida é um grito da vida,
na volta, ela estará diferente,
expressando-se
em doloridos gemidos.
Em primeiro,
o grito da vitória pedindo: vai.
Em segunda, a súplica
de lábios famintos gritando: volta!.
E a vida, a nossa vida,
virou pêndulo de rolar
no bojo de um sonho
ao encontro de viver
a nossa eternidade.