Perolado de Jasmin

A vez não tem hora.

Toda hora pode ser hora.

É só juntar vontades e desejos

e fazer a hora da vez.

 

Um perolado de jasmin

tem cheiro de noite e auroras,

tem cor de timidez e de paixão,

tem sentires nas profundezas

que não se explicam,

que não há palavras para expressar.

 

Só!

 

Sentir!

 

É quando o Sol

faz um Toque de Pétalas,

eivando o espírito mais simples,

a camada mais próxima

de folhas sedosas

e quentes de seu calor.

 

Transcende-se a própria imortalidade

nesta guerra entre luzes e flores.

Aspira-se o perfume que transcende

fronteiras e limites, atravessa janelas do tempo

e se vai em busca de um lugar

onde pousar, àspero de ânsias

e desejos mal curados,

qual pássaro andorro.

 

E o perfume chega à árvore

faminta e sedenta e a transforma

em âmago de nogueiras,

em cerne forte e potente,

em rio que passa molhando

e nutrindo a terra que toca

tornando-a gotejante e orvalhada,

serenada de ânsias e dores.

 

É assim que dois pássaros

se encontram em pleno voo,

juntam asas e formam a luz

que lhes dá identidade,

mas não são eles.

 

É o corpo de duas penas

que se transcendem em uma só,

corpo sem dono,

num mesmo espaço

ou fresta do tempo. 

 

E o jardim,

glorificado pelo voo de luzes,

ressurge já seco,

batido pelo sol,

meado de fome,

a flor rósea,

mal-vestida e cansada,

a árvore já seca.

 

Assim, assim,

que o pássaro se foi

para a conquista da imortalidade

que em nome de ontem

e de hoje a de amanhã.

 

É quando se vive o tempo presente,

o minuto de agora que foi,

que chega e é

e nos deixa até sem respirar.

 

Adormece-se no adeus

de um típico aceno

que fica olhando

o porto vazio a espera,

dentro da saudade

que tem nome e é levedura

de ventre escorrido,

do próximo barco.

 

É quando caem lágrimas do tronco

que, só, é pedra, é rocha

desesperada e fugaz

no perolado de jasmim

cujo cheiro, amadeirado,

perfuma o Sol e as asas

de seu voo pela terra e o mar.