Quero um mundo sem rabiscos de fugas dela.

Quero-a no meu caminho de bem.

Guardada em nosso espaço, perto,

bem perto de uma mão estendida.

 

Eu sou eu.

Tenho um pai que é ferreiro

e disso se deleita

em amaciar o ferro

com fogo quente.

E uma mãe dengosa

por demais,

que deixa a roupa

que me veste quente

tal qual ferro em brasa.

 

Se sou assim,

sou isso

e sou assim.

Nada de outra coisa.

Bem simples,

assim, assim.

 

Passo o dia sonhando,

um pouco cá, outro pouco lá,

não defino posição de como ficar.

Fico de todo jeito, a sonhar.

 

De noite cuido de minhas prioridades,

alimentar o espírito, engrandecer o torto.

Por isso, sou pescador.

Pesco com a "Rosinha, minha canoa".

Navegamos todas as noites pro alto mar,

ondas encrespadas e tempestuosas.

Um caos!

 

Rosinha faz de meu leito na noite escura,

enquanto caço almas para alimentar o espírito.

Vivem dispersas e distraídas pululando

ao redor de meu barco quais peixes

em júbilo de piracema.

 

Com Rosinha voo o mundo

igual a ave ensinada.

Rosinha não fala, vive em mudez plena.

Só geme quando as ondas batem

contra o paredão de suas tábuas de madeira de lei.

Parece que vai desmanchar.

 

Como Rosinha emudece em nossas noites,

só fixa o olhar no mar, eu falo como quiser

ou quando tenho de falar.

Me calo quando dói o peito.

 

É quando mais preciso de afagos.

Quando a dor fica insuportável de aguentar.

Quando a dor passa e o vazio chega,

faço as malas e vou

com Rosinha para outro mar.

Pescamos juntos, Rosinha e eu.

 

E se a noite é muito escura -

e no mar todas são -

pegamos o fósforo e a vela

e soltamos fogos de artifício

para o céu de estrelas enfeitar...

 

É tão bom pescar com Rosinha,

minha canoa querida

ela me acolhe em seus braços

e a chamo de meu amor

Rosinha é mansa e desliza suave

Quando não estou com ela

a levo em meu chapéu...

É minha sombra, meu acalanto

Sou um feliz com a minha Rosinha

Pescador de canoa e remo na mão.