"Distanciar-te de mim, hoje, seria decretar minha morte eterna, meu fim.
Eu não suportaria mais esse bote da vida.
Não haveria mais sentido,
nem forças e desejo de continuar...".
Se houve um dia em que não esperasse nada
além de você, dele não tenho memória.
Sempre esperei você, o nada e o tudo que és.
Somos contrários que se olharam e acharam:
eu esperando e você procurando ou o inverso, já nem sei mais.
Conheço suas escadas - delas já caí tantas vezes.
Também o sopé de sua montanha.
Nele esborrachei-me aos teus pés.
Em tuas sombras já navego eternidades.
Por isso, sigo, lamparina na mão
e bússola que me aponte o Norte,
porque sou afeita a paz que elas me fazem
ao me proteger dos raios e tempestades.
Teus segredos são os meus, que guardas
com amor em uma pasta de teu coração.
Também são cristais e vinhos envelhecidos
que minhas mãos nunca tocaram e nunca não bebi.
Se precisar voltar, eu volto de mãos-dadas com você.
Em minha tez não vejo mais estrelas, mas as sei vagando
ao redor do jardim jogando sementes
que se apagam pela mágica da vida.
O que me surpreende é que o Sol ainda fala:
"se vou, vou de vez".
Inda não veio?
Achei que estivesse aqui...
Talvez, talvez por isso não o sinto mais.
Partiu no entardecer do ontem e ainda não voltou.
Agora há uma escolha: ficar ou ir.
Se fica no portal das agruras e vermelhas saias
ou se volta ao portal dos tonéis de lágrimas de chorar.
Enquanto decides, vamos dançar?
Assim, duas metades fazem Sólidão,
em saias vermelhas e cristais de vinho envelhecido
e se embriagam de vida nos portais
que, de felicidade, até chorar fazem.