Hieroglifo de Amor
Também sei que o sofrimento de alguém
não é como as rosas murcharem.
Chove chuva nas lágrimas da dor profunda
e são essas lágrimas que secam as pétalas
das rosas de amor que nasceram
para amar e iluminar de cor e espinhos
um jardim dos encantados.
Se o pior já passou que se acheguem
os tempos bons, onde não se entregue
mais injustiças e os sonhos possam
ser acalentados em berços
que balouçam ao sabor nacarado
dos ventos alísios.
É na inquietude dos meus desassossegos
que tuas varas de maresias
me tocam e amainam as ânsias
que brotam das águas do mar
e se jogam contra as rochas de minha alma.
Sou molhada pelos sais amargos
que, qual escalda-pés trazem
o silêncio que fala
com os olhos fixos em mim.
E eu devolvo o olhar,
a boca entreaberta,
parecendo querer falar...
Risco um traço
no bloquinho de uma folha.
Seus olhos observam
e desenham outro
em seu caderno de sonhos.
Hieroglifo meu nome em seu braço
e ele viaja, silente, em minhas grietas interiores
como uma nau desliza nas águas quentes
e frescas de um igarapé
até que ele chegue, amadurecido,
pronto pra sementes eclodir
no mar cálido e carmim
que estende suas espumas
com colares no pescoço
por sobre as águas e as naus
que repousam cais nos braços
adormecidos do luar.