Deixei Chover

Deixei chover em meu dia distante geograficamente de ti.

Deixei chover um carinho e uma saudade

numa gota que ruiu meu telhado

e fez um poema de amor lacrimejante e dolorido.

 

É que a corda da vida só balançou para o teu lado.

Eu, com vontade de fazer um afago, entregar um acalanto,

sentir tuas mãos em meu cabelo

e poder contar do que tenho vivido e sentido.

Dores de quem viveu e ainda se encontra

em profundas mágoas pela vida

ter roubado de si tantas vivências e sonhos.

As perdas machucaram tanto os corações

que agora só me resta calar e escutar.

 

Também queria um quarto com você

para entregar o meu beijo

meu abraço e presença em ti.

Para lhe ter e amainar

minhas ânsias de lhe querer.

 

Deixei chover sobre minhas brasas,

mas não se apagaram.

Me atormentaram o dia todo, em todas as horas,

fazendo-me me perder em sonhos e no imaginário

de tudo que poderia criar para atormentar você

que me deixou assim, à mercê de desejos e vontades

que me sufocam e não se calam nem por outorgas ou leis.

 

Deixei chover em meus olhos pela saudade do que nunca tive.

Escorri águas em meus braços que não sabem

o que é lhe abraçar com amor e paixão.

Os lábios, virgens de teus beijos, do beijo não dado...

 

Deixei chover as horas do tempo que sonhei estar com você,

te ouvindo em teu silêncio tão profundo e quase eterno.

Só ouço meu coração que bate inaudível em meu peito -

nem se move mais como antes. Temo que morreu...

sem ao menos um beijo de despedida.

 

Deixei chover nas palavras não ditas,

aquelas que nunca escrevi, que sonhei

e, por medo não escrevi no mensageiro do tempo

que abri tantas vezes em busca de lhe encontrar.

Quanto mais o tempo passa, mais impaciente fico

pelo que espero e já não sei mais se terei ou se devo ainda esperar.

É que não entendo porque é preciso e o que se espera.