Três Vinhos

Você é agora,

minha ânsia,

minha metade de querer,

o desejo e a vontade

que tenho de fazer azul

o vitral que nos faz

de janela da vida

e esparge meia-luz em ti,

sombras e dor

no tudo que te envolve.

 

Falo de uma hora

em que você se perde

em minha luz ofuscante

de seus olhos

que não lhe permitem ver

que milagres

só acontecem

em outros mundos.

Aqui é tudo real,

por isso, não acredite

em pura piedade.

 

És o início,

por isso logo

chegarás ao fim.

Terminar

o que se começou

é a busca de cada um

que se entrega às estrelas

e a sua luz apaixonante.

 

Nem o dia presente é durável,

nem a hora que é...

Somos teias que se amarram,

sem armadilhas

de castelos sombreiros.

Sombreiros não mais há.

A vida os derrubou.

Ressuscita-se o homem

e seus sonhos

e desejos de mais ser.

 

Que tua imagem

não se dissipe em minha vida.

Que seja fruto do maduro

e da leveza de ser solto

de amarras e nós de atar.

 

Que nos embriague

como o vinho que somos,

em cada metade de nós

- uma eu, outra você - colados,

nestas horas e bebendo a nós dois

na liturgia da vida.

 

Eu te amo, só meu,

no teu vir em cristal,

e te tomo num só gole

que é quando morres,

mas também sou tua ânsia

e queres sempre repetir 

o caminho de pedras

que tenho em minhas terras

e na loucura de nosso amor

te entrego...

 

Sou terra de idos e castigos

e sei negociar com belos

que me passam ao largo

de minhas lonjuras de amor.

Aqui um beijo vale uma alma,

e um amor toda uma vida.

 

Se te acharem aqui,

perdido entre minhas areias quentes,

ensine-os a perguntarem

pelo pássaro ferido,

pelo homem de três sonhos.

 

Já digo agora:

vão achá-lo em seu caminho,

entre o vago e a dor

lá onde mora seu (dis)sabor

seu tormento de paixão

degustando três vinhos

nos braços de seu amor.