Tua voz e cor eu também amo.
É um embrulho que abro com gosto
porque me mantém viva.
O pacote recebido diariamente
move o meu mundo.
Me leva a essa louca forma de amar
ou me silencia em meus pra dentro
por tempos que ouso romper para não morrer.
Não tenho estratégias ou táticas para absorver.
Apenas sinto!
E sentindo tento passar um pouco de mim.
Se isto te faz feliz... só você pode me dizer.
Meus sorrisos seguem o mesmo ritual.
Não sei conceder sorrisos que os olhos choram
e também não escondo a felicidade quando toca em mim.
Sou real.
Assim, assim.
Casca e miolo em mim.
Falo com minha língua de enigmas e sussurros
porque me ouço melhor
quando não me compreendo
ou falo por sons inaudíveis.
É que sei que sabes ler entrelinhas
e percebes o que não disse, o que não escrevi.
Nossos enigmas no meu enigmático olhar.
Se navego mares que só eu tenho acesso
porque estou só nestas viagens -
mesmo barco e remos à mão.
É a solitude da vida, que também preciso
para compreender o incompreensível,
entender o que não tem entendimento,
apenas aceitação.
Por isso, guarde meu amor de marés,
tanto as de lua cheia como as de lua minguante.
O mar sou eu, não importa a lua que faz minhas marés.
É o mesmo mar que toca as areias da praia
e lambe as rochas do penhasco que se levanta,
majestoso, ao toque de minhas ondas.
Se me canso desse ir e vir, me renovo
ao calor e toque de tuas melodias.
É quando falo através dos olhos que mais falo,
que mais de mim digo.
Se me entendes, também me subentendes
e portanto sabe que meu amor de marés
é ousado, intrépido e, ao mesmo tempo,
manso e apaziguador, muitas vezes, sim,
cansado do ir e vir de minhas ondas
sobre a areia crepitante de grãos
e as rochas ponteagudas de desejos e ânsias.
Também é amor de temporal.
Faço tempestades quando impaciente
em meu querer mais e mais você.
Como viver com o corpo em constante ebulição?
Se sabes, me ensina.
Eu só sei lava e vulcão ser
em minhas ânsias de mais amar.
Nestas horas, de amor de fogaréu,
quem consegue não ser louco?
Quem consegue ser racional?
Os sentidos falam.
A força da emoção é que dá o ritmo
das estações e acende, revive
o que acabou de morrer.
Mas gosto da serenidade no amar,
do movimento ritmado e lento de uma harpa,
um piano que, lentamente, solta suas notas no ar,
inebriando e movendo a dança
que, suavemente, mas com força profunda ama,
assim, assim, tão perto, tão suave, tão junto...
sabes? Sentes?
É nesses momentos de amor de calmarias
que converso com meus enigmas
para que se revelem em cada
ir e vir manso e demorado
de minhas ondas para que o sol tenha tempo
de contar estrelas e tocar o céu com a mão
em meio ao ritmo de uma música lenta e bela
para que se perpetue em seus raios
a memória das tempestades e das calmarias
que permitem ao barco navegar
sentir minha presença
e ouvir minha voz de nuvem,
meus sussurros e gemidos de brisa
em suas noites frias e sozinhas
ou em suas andanças por seus desertos
buscando suas respostas ocultas...
que em mim, já estão à flor da pele.
Se sou feliz assim,
é assim que sou feliz.
E me realizo em ti
ou com tua voz
de rocha em mim.
Te amo:
eu também te amo,
amor da minha vida.