Olha pra mim, levanta

os olhos e olha pra mim.

Está me vendo? Sente?

Me olha, sempre sorrindo...

Hoje é nossa noite de tocar.

Eu ergo a batuta, você toca violino...

afine as cordas...

 

Ou você pode bateriar

eu vou cantar e dançar...

 

De ontem pra hoje

desaprendi teclar

- tens de me ensinar.

Me ensina?

O que fazer primeiro?

 

Teclo você... assim, assim,

tão plumamente,

como um tênue cisco

de semente de flor

que o vento leva

e rodopia embrigado,

vai indo, indo asas abertas,

flana, plana e asa delta

se arremessa ao fundo do abismo

num girafólio, gira, gira,

parece que vai no chão se espatifar...

 

perde o controle no ar...

e desce, desce,

passa montanhas

corre nas águas do rio

em direção o mar...

 

O som dos trovões

já ribombam ao longe

e os sinos da igrejinha já tocaram

alertando ao povo

que a adoração vai começar...

 

o maestro ergue a batuta... no ar...

aponta para a violinista, mira... mira...

ela espera... sem respirar... silêncio...

o violoncelo desliza um tom, uma pausa...

a campainha do coroinha soa seu tilintar... ...

 

me olha... lá de cima o maestro,

a mão erguida, a batuta nas alturas,

quase tocando o céu...

o palco incendeia e a orquestra

emana a melodia de natal...

um silencioso som respira no sopro... 

da ave-maria.... 

que invade a capela sonora...

o coral de santos abre a boca...

é dolorida a melodia...

ansiosa, angustiante...

clama, suplica...

 

o órgão chora no alto do mezanino...

os monjes cantam com seus chapéus...

são depositários do amor de D-us...

 

Ouça o som, é o céu descendo até nós...

cristalinas águas que nos envolvem,

as mãos seguram o violino e a violinista chora...

e seus gemidos se unem ao órgão que não se cala...

 

oh! ave-maria... oh! ave... vem dos céus...

a terra e cure a alma dos pecadores...

que clamam a ti, por tuas mãos...

oh! ave, glorificada... renasce o homem,

abranda sua dor ave do céu...

maria... salva... as nuvens se contorcem

e deslizam no corpo da terra

qual névoa quente depois da chuva

quando bate o sol...

uma mão gigante acolhe os pecadores

e os acalenta na pia batismal,

na água benta, azulada de luz...